O anúncio do novo reajuste de até 64% no valor das bandeiras tarifárias gerou um receio entre os consumidores brasileiros, que passaram a temer por um aumento significativo no valor da conta de luz.
A desconfiança foi tão grande que a própria ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) precisou vir a público na última quarta-feira (22) para tranquilizar a população, destacando que os aumentos não possuem impacto imediato para o consumidor, enquanto for mantido o acionamento da bandeira verde no país.
Tal modalidade, que está em vigor atualmente, é usada em períodos de pouco uso de energia térmica e, por isso, não possui custo adicional para o consumidor, diferentemente das cores amarela e vermelha, nos patamares I e II.
A expectativa do mercado, inclusive, é que o acionamento das taxas extras não sejam necessárias neste ano por causa da recuperação acima do esperado dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, que chegaram a 74,4% de capacidade na semana passada, segundo informações divulgadas pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Nesse sentido, José Marangon, professor titular da UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá) e ex-assessor da diretoria da ANEEL, analisa que quanto mais sistemas de GD (geração distribuída) forem instalados no Brasil – em especial a solar, por causa de sua rápida instalação – menor será a chance de haver a cobrança da taxa extra no valor conta de luz dos consumidores.
Ele lembra que no ano passado, durante os momentos de maior tensão da crise hídrica, o valor arrecadado com as bandeiras tarifárias pela ANEEL não foi suficiente para pagar a geração térmica, que precisou ser acionada para evitar o racionamento de energia no país. “Então, o que a ANEEL fez? Ela reavaliou os valores das bandeiras”, disse.
“Como os reservatórios hoje, em relação aos anos anteriores estão acima da expectativa, muito provavelmente esse ano elas não deverão ser acionadas, conforme sinalizou, inclusive, a própria Agência. Agora, se houver uma nova crise hídrica e tiver pouca chuva, aí sim pode ser que sejam acionadas”, ressaltou.
Mesmo com o cenário pouco provável e negativo mencionado por ele, Marangon frisa que se o país não parar de aumentar a sua produção de energia por meio de sistemas de GD, os riscos de um acionamento das bandeiras amarela e vermelhas ficam cada vez menos prováveis.
“Quanto mais tiver geração distribuída, é mais geração disponível e, consequentemente, a GD desloca a geração térmica. Ou seja, se aumentarmos a oferta de energia pela GD, acabamos minimizando o acionamento das bandeiras em patamares mais elevados”, comentou.
“Então, ao invés de acionar a bandeira vermelha no patamar 2, por exemplo, poderíamos acionar somente amarela, minimizando aumentos no valor da conta de luz”, finalizou Marangon.