O assunto transição energética está em voga no Brasil, o que não significa que o conhecimento mais aprofundado sobre o tema esteja efetivamente difundido, tampouco que o conceito seja totalmente bem-entendido, sequer bem-visto no mercado.
É exatamente por isso que é necessário definir o que é a transição energética e porque ela representa uma oportunidade de negócio.
Do ponto de vista de definição, entendemos que a transição energética descreve a passagem de uma matriz energética focada nos combustíveis fósseis para uma com baixa emissão de carbono, baseada em fontes renováveis, além do foco em eficiência energética e dos investimentos em tecnologia.
Do ponto de vista analítico, quando se pensa em ESG, em escala global entende-se que se trata de um movimento para cuidar do planeta e que usa como ferramenta a vertente reputacional das empresas que aderem a ele.
Com a falta de conhecimento e uma lacuna regulatória, há no Brasil várias companhias que cometem “greenwashing”, ou seja, falam verde sem agir verde, o que inclusive já configura crime em alguns países lá fora, como a França. E é, em parte, por isso que os esforços do movimento verde ainda causam receio no mundo dos negócios.
Nesse contexto, a transição energética é efetivamente percebida por muitas organizações como um risco, uma interpretação que precisa mudar, já que o processo está em andamento e é irreversível, justamente pelo fato de a energia responder por cerca de 78% das emissões globais.
E, com isso, a transição se torna um barril de oportunidades para as mesmas empresas que a temem. Em termos práticos, falo aqui de cuidado com o meio ambiente associado à significativa redução de custos a médio e longo e prazos, sem falar nos benefícios de imagem de empresa ecologicamente responsável perante a opinião pública.
Claro que esta não é uma transformação simples, de um dia para o outro, mas é possível esverdear atitudes de forma planejada, com vistas a um negócio mais sustentável.
Trata-se de olhar a operação como um todo e entender que, sim, a transição energética é vantajosa em diferentes níveis, inclusive no econômico. É abrangente e não envolve apenas a energia elétrica, por exemplo.
São inúmeras as soluções de redução de consumo e otimização disponíveis, passando pelo gás, vapor, calor e outras utilidades que são determinantes para a operação das empresas. Há um forte movimento global buscando a economia de baixo carbono, com metas que passam pela transição energética, por meio de fontes renováveis.
No Brasil, temos uma base muito fértil, com abundância de recursos naturais e capacidade de fazer com que o país se coloque como protagonista desse movimento. Temos, inclusive, recursos sobrando, além da necessidade econômica doméstica, o que tem atraído olhares do resto do mundo para nós.
Por exemplo, a União Europeia acaba de anunciar um investimento de € 2 bilhões para desenvolver a indústria do hidrogênio verde no Brasil, com a meta de importar 10 milhões de toneladas por ano até 2030.
Além disso, no novo governo, que tem a indústria como fio condutor da política econômica, fala-se em industrialização verde. Com fontes altamente competitivas, é possível substituir processos, de modo a reduzir as emissões e oferecer custos mais baixos para a indústria e consequentemente torná-la mais competitiva.
Para exemplificar esta ideia, me arrisco a uma comparação com a inteligência artificial. Executivos e corporações em geral parecem assustados com a possibilidade de a tecnologia tomar seus lugares.
Na era da IA muito se questiona sobre os limites que essas ferramentas podem alcançar ou ultrapassar. Mas ao analisar e compreender as infinitas possibilidades apresentadas pela IA como uma ferramenta de fato, é possível perceber que todo o temor pode ser transformado em oportunidade.
O mesmo acontece com a transição energética, que inclusive tem visto na IA um facilitador para a sua implementação, por exemplo em plataformas digitais de predição do consumo energético de unidades de negócios.
Sendo assim, é notável que a transição energética é um caminho sem volta. As companhias devem estar atentas às oportunidades que se abrem nesse momento ainda inicial, pois a transição não vai parar.
É possível se posicionar de modo a aproveitar essa onda ou esperar ser engolido por ela. Por enquanto, ainda é uma escolha e as estratégias corporativas são justamente feitas de escolhas (ou não escolhas).
Como dizia Seneca, “para quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve”. Formulo o voto para que cada empreendedor possa enxergar a transição energética como uma oportunidade para o seu negócio e que assim possa abrir-se para o nosso país um novo ciclo de prosperidade baseado em negócios sustentáveis.
As opiniões e informações expressas são de exclusiva responsabilidade do autor e não obrigatoriamente representam a posição oficial do Canal Solar.
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