O armazenamento de energia promove liberdade e garante autonomia ao prosumidor (consumidor que produz), possibilitando a gestão de consumo durante o horário ponta e de demanda, além de proteção contra falhas na rede e de alterações desfavoráveis nas regras de compensação de energia.
Essas são alguns das vantagens do armazenamento, que segue crescendo no Brasil. Mas quais são os fatores que estão promovendo essa expansão e o que fazer para que tal aplicação continue nessa caminhada energética?
Markus Vlasits, diretor da NewCharge Projetos e coordenador do GT (Grupo de Trabalho) de Armazenamento da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), desenvolveu um estudo, em parceria com a Greener, empresa de pesquisa e consultoria, e indicou as perspectivas para o futuro do país.
Segundo o especialista, os principais motivos que contribuem para o crescimento são a queda de preço de baterias, com previsão de redução de 89% em 2020 e de 95% em 2030, além da queda de rentabilidade de aplicações no mercado financeiro.
“Para fazer acontecer o mercado brasileiro de armazenamento é preciso uma estabilidade macroeconômica. Desde o início de 2020, o Real perdeu 40% do seu valor em relação ao Dólar americano. Essa desvalorização inviabiliza muitos setores, dentre eles, o armazenamento de energia elétrica”, comentou o executivo.
“A tributação é essencial também. O código tributário não distingue entre baterias de pequeno porte e sistemas de armazenamento. Todos são tributados com alíquota cumulativa de 80% (II, IPI, PIS/COFINS, ICMS) na importação”, apontou.
Outro ponto destacado por Vlasits é a regulamentação. Ele disse que os projetos atrás do medidor acontecem em um limbo regulatório. Já a maioria dos serviços em frente do medidor são inviáveis devido à falta de regulamentação.
“A adoção de normas técnicas também é importante. Isso porque a Portaria 004 do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) abrange baterias de chumbo-ácido e níquel cádmio e o ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) estabeleceu uma norma técnica apenas para baterias de lítio de baixa tensão (48 Vcc)”, relatou.
Prognóstico de mercado até 2030
De acordo com o diretor da NewCharge Projetos, o mercado brasileiro de armazenamento de energia poderá atingir uma capacidade instalada de 18 GWh e um faturamento cumulativo de mais de R$ 40 bilhões (sem considerar aplicações em frente do medidor) até 2030.
Maior projeto de armazenamento do Brasil
A companhia Vale do Rio Doce irá instalar, no seu terminal em Mangaratiba (RJ), um sistema de armazenamento de energia utilizando baterias de íon de lítio.
A capacidade total do projeto será de 10 MWh e servirá para reduzir os custos da empresa com energia no horário de ponta. O projeto é, atualmente, o maior no país.
Aplicações
Markus Vlasits elaborou um resumo de aplicações de armazenamento e suas perspectivas de crescimento. Confira:
Off-Grid
- Eletrificação rural: na região Norte, por exemplo, ainda tem mais de 1 milhão de pessoas sem acesso à energia elétrica. Sistemas off-grid de pequeno porte (solar + armazenamento) são uma alternativa viável e mais rápida à expansão à rede em lugares remotos;
- Produtores independentes de energia: sistemas híbridos (fonte renovável + armazenamento) estão ganhando viabilidade financeira para complementar e reduzir a geração Diesel.
Atrás do medidor
- Consumidores em média tensão: já existe um número crescente de sistemas voltados à redução de consumo durante o horário-ponta, gestão de demanda e backup – tanto para consumidores cativos, como para livres;
- Consumidores em baixa tensão: acreditamos que existe um mercado relevante para sistema fotovoltaicos híbridos, que promovem segurança energética, além de economias na conta.
Em frente ao medidor
- Projetos de grande porte conectados à rede: poderiam trazer uma variedade de benefícios relevantes, tais como: facilitar o despacho de fontes variáveis (usinas solares e eólicas); gerar receitas adicional no mercado livre (PLD horário); melhorar a qualidade da rede elétrica (serviços ancilares); e otimizar investimentos em redes de transmissão e distribuição. Para se tornarem realidade, estes projetos exigirão uma adequação do marco regulatório.
Crescimento do mercado global de armazenamento
Segundo o estudo realizado por Vlasits, em parceria com a Greener, a Coreia do Sul liderou o ranking em 2019, com 600 MW de potência instalada. Em segundo, aparece a Alemanha, com 500 MW, seguido da China, também com 500 MW, Estados Unidos, com 400 MW, e demais países, com 1,1 GW.
Fazendo uma análise mais aprofundada, entre 2013 e 2019, a Coreia do Sul atingiu 2,4 GW. Isso em usinas híbridas (solar + armazenamento) incentivadas através de vários programas públicos e sistemas atrás do medidor para usuários de grande porte.
Nos útlimos sete anos, os Estados Unidos alcançou 1,7 GW em sistemas residenciais e comerciais de pequeno e médio porte focados em segurança energética e economias, além de sistemas de grande porte prestando serviços para rede elétrica.
Já a China registrou 1,5 GW de potência, que serviram para facilitar despacho de usinas fotovoltaicas de grande porte e demais fontes renováveis.
Com relação à Alemanha, por exemplo, foi contabilizado 1,4 GW, que serviram como sistemas atrás do medidor, promovendo a otimização da geração distribuída. Ao total, 60% das novas instalações fotovoltaicas abaixo de 30 kWp incorporam baterias.
Se tratando de outros países, a potência instalada foi de 3,7 GW entre 2013 e 2019. Na Austrália, o destaque ficou por conta dos sistemas atrás do medidor e usinas virtuais, no Japão também os atrás do medidor (fim de tarifa prêmio para energia solar em 2019) e na Índia os leilões de sistemas híbridos.